Contos


A caliandra do cerrado deu sustento ao lar feliz

Brasília, primavera de 2012
Pe. Ottomar Schneider



A jovem camponesa precisa lutar pelo próprio sustento. Filha de pais humildes, não conta com muitos recursos.

Um bom emprego aguarda Guilhermina na Fazenda Jaboti. Patrões exigentes remuneram bem os empregados.

O serviço da casa requer esforço e dedicação. A arrumação dos quartos e a cozinha ocupam a patroa e as auxiliares.

Lentamente a doméstica conquista a estima de toda família. Esta confiança favorece a estabilidade no emprego.

A atmosfera religiosa reinante produz bem-estar e alegria. Mês por mês a imagem de Maria visita o lar acolhedor.

Isto não significa que alguns perigos deixem de rondar o ambiente familiar. Mulher atraente, a doméstica desperta a paixão do filho mais velho do fazendeiro.

Incauta, Guilhermina deixa-se seduzir por Ricardo. Bastou um único encontro amoroso, para ver-se engravidada.

O pânico apodera-se da jovem servente. Levada pelo medo de enfrentar a indignação dos patrões, Guilhermina pede demissão.

 Sem entender a razão, Da. Constância presenteia-lhe uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida: – Ela te protegerá!

Nem Ricardo suspeita da gravidez da doméstica demissionária. Com a imagem de Maria na bolsa, Guilhermina embarca para São Paulo.

Ela é seu único arrimo na vida. Sozinha na cidade grande, a fugitiva dá à luz a pequena Jéssica.

Não fora a proteção da Mãe de Deus, esta jovem mãe teria sucumbido à miséria. Acolhida por uma médica solidária, recebe um cômodo para morar no emprego. 

Afeita à vida do cerrado, Guilhermina passa a cultivar vasos ornamentais de caliandras[1] floridas. É um bom suplemento ao pequeno salário de doméstica.

Grande é a ânsia de proporcionar à filha uma figura paterna! Mais uma vez, o envolvimento com um homem termina em gravidez indesejada.

Agora, Ricardinho vem somar-se ao lar incompleto. E, o esperado pai desaparece da vida desta mãe solteira.

Confiante em Maria, Guilhermina decide assumir o papel de mãe e pai na educação de ambos os filhos. Tudo mais, a Providência Divina proverá!

Assim, a caliandra do cerrado deu sustento ao lar feliz.



[1]  
Caliandra é a designação comum a várias espécies do gênero caliandra, da família das leguminosas. São arbustos ornamentais, caracterizados por flores congregadas em glomérulos e providas de estames muito compridos.  O nome científico é “Calliandra tweedii” e pertence à família “Mimosoideae”. Esta flor também possui nomes populares, como “sponjinha-vermelha”, “mandararé”, “esponjinha-sangue”, ou simplesmente, “esponjinha”. Do ponto de vista etimológico o nome caliandra vem do grego “Kallio santirocco” – belo e másculo, referindo-se aos belos estames coloridos e “tweedii”, em homenagem ao botânico J. Tweedii. Sua origem é do Brasil. Suas características gerais são de um arbusto lenhoso, ramificado, ereto e bastante florífero, com o porte de 2 a 4 metros de altura. As folhas são permanentes e bipinadas. As flores ocorrem em capítulos densos, com estames longos e de coloração vermelha, formados principalmente na primavera-verão. A caliandra é uma planta rústica e deve ser cultivada a pleno sol, em solos ligeiramente férteis. Ela se multiplica por sementes e estacas. É plantada em jardins e também, na formação de cercas vivas e renques. Pela sua elevada rusticidade, a caliandra adapta-se a diferentes paisagens. Ela possui vários significados: “delicada flor vermelha do cerrado”, mas também podem significar “agitação” (Fontes: Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa,  e www.floresnaweb.com/dicionario.php?id=46). 
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                          A mãe de Rosinha da praça partiu feliz


Guaíra/PR, 2001

Pe. Ottomar Schneider


Gente humilde do povo, Alencar e Sônia moram no interior. Casados, há quinze anos, falta-lhes a alegria da prole.
O esposo sustenta o lar, dividindo uma pequena oficina de móveis com o irmão Ricardo. Sônia faz limpeza na mansão de Dra. Adélia.
A patroa percebe o anseio da serviçal por tornar-se mãe. Compadecida, propõe-lhe financiar uma concepção in vítreo.
Fiel aos princípios éticos da Igreja, Sônia recusa a oferta. Alencar apóia a decisão da esposa.
Ambos seguem perseverantes na oração. A Providência Divina saberá abrir outro caminho. Deus proverá a seu tempo.
Hoje, Alencar saiu cedo de casa. O dia mal começa a raiar. O marceneiro almeja terminar uma encomenda.
Ali na praça, observa um embrulho mover-se debaixo de uma roseira.[1] Envolta em poucos panos, jaz uma criança recém nascida.
Desajeitado, Alencar toma-a nos braços. Ninguém por perto. Cheio de ternura paternal, retorna com o bebê para casa.
Também o coração da esposa bate forte. De quem será esta criança? Ela acaba de nascer!
Deve estar com fome. Às pressas, Sônia providencia mamadeira e leite quente. Depois compra algumas fraldas,
Estupefato, o casal se pergunta: Será este o fruto de nossas preces? Ou devemos procurar de imediato o juizado da infância?
Penetrado de fé, o casal decide levá-la primeiro à Pia do Batismo. E, por havê-la encontrado debaixo da roseira, dá-lhe o nome de Rosa Maria.
Após o batismo, Alencar e Sônia encaminham-na ao juizado. Ao perceber o desejo de adotar a criança, o juiz lavra de imediato a certidão.
Agora, são “pais de coração”. A consciência de paternidade e maternidade invade a alma do casal feliz. Foi bom esperar pelo agir da Providência!
Rosa Maria torna-se conhecida como a “Rosinha da Praça”. Cercada de amor, a menina cresce alegre e feliz.
Educada em colégio de Religiosas, a jovem assimila os mais sadios princípios humanos e cristãos. Pais e mestres percebem a rara inteligência da estudante.
Rosa Maria ingressa na faculdade de medicina. Em poucos anos, ali está Dra. Rosa Maria. Especialista em doenças infecto-contagiosas conquista a confiança dos pacientes.
Sabedora da história da própria infância, Dra. Rosa Maria nutre o desejo de conhecer a mãe biológica. Apoiada na fé, diz-se a si mesma: Deus saberá como e quando!
Uma mulher gravemente enferma dá entrada no hospital. Consumida por doença transmissível, a paciente encontra-se em estado terminal.
Dra. Rosa Maria experimenta um estranho sentimento de afinidade. Aquele rosto macilento e sofrido, não lhe parece estranho!
A médica encaminha um teste de DNA.[2] O resultado confirma o pressentimento. Dra. Rosa Maria encontra-se diante da própria mãe.
Que deve fazer, agora? Dar-se a conhecer? Porém, já não há mais nada a fazer pela saúde do corpo. Talvez possa ajudar-lhe na cura da alma.
Movida de amor filial, Dra. Rosa Maria encaminha um Sacerdote amigo ao leito de mãe. É a oferta da reconciliação com Deus.
A filha assiste a mãe, partindo à Casa do Pai. As abundantes lágrimas são de emoção e gratidão.
Na lápide mortuária todos lêem o epitáfio: “Aqui jaz Madalena dos Perdões, mãe da Rosinha da Praça. Descanse em paz!”
Assim, a mãe de Rosinha da Praça partiu feliz.


[1] A rosa é uma das flores mais populares no mundo. Ela é cultivada desde a antiguidade. A primeira rosa cresceu nos jardins asiáticos, há 5.000 anos. Na sua forma selvagem, esta flor é ainda mais antiga. Fósseis dessas rosas datam de, há 35 milhões de anos.
Cientificamente, as rosas pertencem à família rosaceae e ao gênero rosa l., com mais de 100 espécies e milhares de variedades, híbridos e cultivares. São arbustos ou trepadeiras, providos de acúleos. As folhas são simples, partidas em 5 ou 7 lóbulos de bordos denteados. As flores, na maior parte das vezes, são solitárias. Apresentam, originalmente, cinco pétalas, muitos estames e um ovário ínfero. Os frutos são pequenos, normalmente vermelhos, algumas vezes, comestíveis.
Atualmente, as rosas cultivadas estão disponíveis em uma variedade imensa de formas, tanto no aspecto vegetativo, como no aspecto floral. As flores, particularmente, sofreram modificações através de cruzamentos realizados ao longo dos séculos, para que adquirissem suas características mais conhecidas: muitas pétalas, forte aroma e cores das mais variadas (cf. pt.wikipedia.org/wiki/Rosa ).
[2] O DNA (ácido desoxirribonucléico) é a parte mais importante de cada célula. Ele contém informações vitais que passam de uma geração à outra. O DNA coordena sua fabricação, assim como a de outros componentes das células, como as proteínas. Pequenas alterações do DNA podem ter conseqüências graves, e a sua destruição leva à morte celular. Mudanças no DNA das células em organismos multicelulares produzem variações nas características da espécie. Durante muito tempo, a seleção natural age sobre essas variações para desenvolver ou mudar a espécie (cf. saude.hsw.uol.com.br/dna.htm).
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A cana do brejo em flor virou sinal de gratidão


Maringá/PR, agosto de 2012.
Pe. Ottomar Schneider

Recém nascida, Juliana sorri a cada visitante que chega. Será um dom especial de Deus? O tempo haverá de dizê-lo.
A água batismal faz crescer, ainda mais, o sorriso desta criatura feliz. Estranha áurea de luz envolve este rostinho angélico.
A menina torna-se moça. Alma religiosa, Juliana ama Nossa Senhora. A chegada da Mãe Peregrina converte-se em festa de família.
No lar, na escola e na comunidade paroquial, todos admiram a jovem apóstola. Juliana sente-se chamada a anunciar Maria.
Em meio a tanta felicidade, estranho mal-estar depara-se em seu frágil corpo. Será alguma grave enfermidade?
Exames médicos nada acusam de anormal. Tia Inês aconselha tomar o milagroso chá de cana do brejo.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
De fato, Juliana experimenta sensível melhora. Contudo, os sintomas da enfermidade permanecem.
Juliana opta pelo estudo de enfermagem. Secreto sonho atrai o coração aos pacientes renais.
Encanta-lhe cuidar da hemodiálise. Um ambiente propício para divulgar a devoção à Rainha do Santuário de Schoenstatt.
Surge a oportunidade de inscrever-se num concurso do Hospital dos Servidores Públicos. Que susto!
O mapeamento dos rins acusa grave enfermidade. O órgão esquerdo está em fase de decomposição. O direito, apenas, com dois terços de funcionamento.
A causa? Uma singular anomalia congênita! Cada rim apresenta um canal de refluxo. Caso raríssimo, entre milhões de seres humanos.
Dr. Gaudêncio assume a intervenção cirúrgica. Afastado o refluxo, o rim remanescente retorna às funções normais.
Com a saúde restabelecida, Juliana volta a servir os pacientes da hemodiálise. Em gratidão, um vaso de flor da cana do brejo perfuma a Imagem da Rainha da Saúde. 
 Assim, a cana do brejo em flor virou sinal de gratidão.











 Planta da família das Zingiberaceae. Também conhecida como canarana-do-brejo, cana-do-brejo, caatinga, cana-branca, jacuanga, pacová, cana-do-mato, jacuacanga, paco-caatinga, periná, ubacaia, ubacayá. É uma erva que cresce nos brejos, de flores rosas manchadas de branco. Planta herbácea de haste ereta, dura, até 2 metros de altura. Folhas alternas, oblongas, invaginantes, verde-escuras, com bainha pilosa e avermelhada na margem. Flores róseas com bordas brancas, tubulares, por dentro amarelas bracteas cor de carmim. Usada nos casos de sífilis, inflamações dos rins, arteriosclerose, amenorréia, problemas na bexiga e nos rins, blenorragia, cálculo renal, distúrbio menstrual, dor reumática, dores e dificuldade de urinar, inchaço, inflamações da uretra, leucorréia, nefrite e uretrite.

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